domingo, 20 de setembro de 2020

CAP. 4: A CHAMADA


Depois disto ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei , e quem há de ir por nós? Então disse eu: Eis-me aqui, envia-me a mim" (Isaías 6:8)

Por isso,  ó rei Agripa, não fui desobediente a visão celestial; 
(Atos 26;19)


Durante cada ano letivo no Seminário Amazônico onde estudei havia três meses de férias nos finais de ano, e eu sempre aproveitava esses períodos para servir em minha igreja em Soure, pois lá eu revia parentes, amigos, e podia ficar na casa de meu irmão para ajudá-lo em seu comércio que tinha crescido, e principalmente servir nos ofício da igreja naquilo que me era permitido fazer para colocar em prática, muitas coisas que estava aprendendo teoricamente no Seminário

Eu notava que a igreja sentia-se contente quando chegava meu período de férias. Por ter necessidade de mais obreiros. 

A igreja dispor de um jovem seminarista era  proveitoso. Com isso o pastor de Soure, Pr. Valdemar  aproveitou minha disponibilidade e  enviou-me para dirigir os cultos em um vilarejo de pescadores chamado Cajú-Úna que localizava-se há uns 20 kilômetros  da sede no Município, bem à margem do Oceano Atlântico ao extremo Norte do Brasil.

Eu já tinha servido neste lugar em ocasiões anteriores acompanhando o meu pastor, depois ele confiou-me ir sozinho para dirigir os cultos. Eu viajava de bicicleta por 13 kms até a Vila do Pesqueiro, de onde se atravessava em um pequeno um rio com a bicicleta sobre uma canoa, para continuar a trajetória, em mais sete kilometros pela praia. Geralmente na ida sempre eu pedalava contra os ventos vindo do Oceano, tornando a viagem muito mais desgastante e demorada.

E como naquela vez eu  estava de férias de final de ano, que seria 3 meses, acertamos que todo aquele período eu ficaria diretamente assistindo a congregação daquele vilarejo para poder fazer um trabalho mais amplo e produtivo que as visitas periódicas. Era, 1978 e eu estava em meu segundo ano letivo no seminário, faltava o terceiro e último, o anos da conclusão e formatura.

Estando no  Cajú-Una eu podia evangelizar os pescadores enquanto eles consertavam suas redes, calafetavam seus barcos na praia, e tudo isso era muito interessante para mim, porque eu olhava para  meu ambiente de trabalho, e lembrava o  Ministério de Jesus no Mar da Galileia quando também evangelizava os pescadores para formar os seus primeiros discípulos. 

Cajú-Una realmente foi o meu primeiro campo de trabalho, onde me foi permitido conhecer as primeiras responsabilidades no cuidado com o Rebanho do Senhor.

Eu dormia no mesmo local onde se realizavam os cultos; era uma casa de madeira ao estilo palafita que tem o assoalho erguido alto sobre a terra para proteger a casa do tempo das enchentes, quando as águas sobem mais que o comum e alaga tudo. 

Na pequena casa transformada em templo,  tinham retirados as   paredes internas formando um só salão onde foram colocados uns bancos de madeira, uma mesa que servia de púlpito e um candeeiro a gás, para a realização dos cultos. 

A casa ficava em uma esquina bem próximo ao local onde os pescadores descarregavam seus barcos, e onde também também atracavam os barcos freteiros que abasteciam a vila de mantimentos e levavam passageiros diretamente para Belém, a capital do Estado.

Como o meu trabalho era aquele, eu procurava meditar bastante antes das reuniões onde teria que fazer as pregações,  e eu prepara-me muito bem consagrado-me e Deus sempre concedia na graça na hora dos cultos. Os irmãos que congregavam ali estavam aprovando o meu trabalho pelos rostos alegres após os cultos, e pelo esforço que faziam a cada dia para congregarem. Era a primeira vez que eles tinham um obreiro com tempo integral só para servi-los, e em compensação eles cuidavam muito bem de mim, me convidando para comer em suas casas ou enviando para o local onde eu estava em marmitas, saborosas refeições que eles preparavam, com muito carinho. 

Naquele lugar tinha  uma irmã, chamada Marina, ainda nova convertida, que teve sua vida transformada pelo evangelho ela ja era idosa e a matriarca de uma família daquele vilarejo. 

A irmã Marina foi quem se prontificou com o pastor de preparar minha alimentação regularmente enquanto estivesse ali, e ela fazia isso com muito carinho. Ela preparar um peixe, como ninguém, ela sabia preparar uma uma tainha que 'e um peixe gostoso da região, cuja ova é muito requisitada, principalmente para comer assada. Porém, ela conseguia     limpar e separar as partes internas da barriga de cada peixe, enxertando com os temperos especiais que ela tinha, recolocando tudo de novo para dentro do peixe e fechando a barriga do peixe costurada,  para depois envolvê-lo em folhas de bananeira e assá-lo lentamente. Dificilmente alguém não  tem o conhecimento e a paciência para para preparar um peixe assim em lugar, por isso, as pessoas de outros lugares,  também não tinham o privilegio de provar algo tão delicioso, como eu tinha naquele humilde vilarejo. 


Naquele meu período em Caju-Una, havia uma praga de  pernilongos, um inseto que lá eles chamam de carapanã, ou e nos outros lugares chamam de muriçoca, que também é um agente transmissor da malária. 

Mas, o carapanã do Marajó, apesar de ter picada muito dolorida,  dificilmente transmite a malária,  como em outras regiões do Pará, onde eu fui trabalhar anos depois, como pastor, porém aquela época houve uma proliferação maior de  insertos, de modo que tos falavam em uma praga sobre a região, que afetava os humanos e os animais. Era comum ouvir o latido de cachorros nos terreiros, e de as galinhas sendo atacados pelos carapanãs. Quando anoitecia então era que a coisa piorava.  Eu conversei com o irmão Venerável, um ancião de 84 anos, que pai da irmã Ideal, cuja casa feita de bambú, ficava ao lado da casa onde eu estava e onde a igreja se reunia para os cultos, a irmã Ideal, que era esposa do irmão Caranguejão, um pescador que que neste tempo ainda não havia se convertido ao evangelho. O irmão Venerável, que foi nascido e criado naquele lugar  dizia-me que  nunca antes tinha visto uma praga de carapanã igual aquela, e enquanto a gente conversava ou andava por ali, era comum usar, um pano ou um pequeno galho de mato, para espantar os pernilongos. de onde eles estavam ferrando.

A casa onde nós reuníamos para os cultos, era de madeira antiga e havia afastamento entre elas, tanto no assoalho como nas paredes,  e quando os pernilongos descobriam que tinham muito sangue para que eles se alimentarem em um só local, parece até que uns saiam dando a notícia para os outros convidando-os  para a festa, porque,  a cada minuto da reunião parece que chegava  uma nova  tropa, com os seus ferrões pontiagudos.

Nós tínhamos que dar o nosso jeito para não permitir que aquele pernilongos tão pequenos, chegassem a impedir o nosso povo de congregar. E  não impedia, a senso comum era que nada pode nos separar do amor de Deus, e de que pelo sacrifício que Jesus fez por nós, foi maior de que qualquer sacrifício momentâneo que seja necessário fazer para adora-lo e serviço, e isso precisa ser em espirito e em verdade. Po isso durante os cultos se ouvia o barulho de goleias e aleluias, junto com a barulho das batidas dos raminhos e pagos que cada um tinha para espantar os insetos que atacavam durante o culto.

Por isso antes do culto eu saia em busca de cascas secas de coco, que eram trazidas dos covais da região pelas ondas da maré e ficavam encalhadas  na praia. Eu sempre tinha isso em estoque, debaixo do assoalho, sem estarem molhadas pelas constantes chuvas na região. Com elas eu fazia fogo debaixo do assoalho da congregação, antes dos cultos, para que a fumaça que entrava durante o culto afugentasse o maior número de pernilongos e o sofrimento com a ferroadas fossem menor.

A fumaça feita pelas cascas de coco queimadas não conseguia espantar todos os pernilongos, mas qualquer centena deles à menos já ajudava no ambiente. Havia irmãs com os seus bebês, a quem tentavam proteger, muito bem.  Era assim que eu fazia também para pregar e eles faziam para ouvir, ou enquanto cantavam ou oravam. Lá ninguém podia caminhar para a congregação de mãos vazias, além da Bíblia, tinham que portar um pano ou pequeno galho com filhas para espantar os pernilongos. Se você já viveu durante um período de pandemia de vírus,  em que as pessoas do mundo inteiro precisam  usar máscaras de face que incomodam na respiração livre, para entrar nos ambientes,  pode entender que há coisas que são necessárias fazer, que incomodam menos, do que o mal do qual pode nos protege com o seu uso. Assim era no Caju Una durante aqueles dias.

Era dessa forma que Deus agia, o povo era abençoado e saiam satisfeitos de ter mantido um encontro com o Senhor e sua palavra. 

Foi durante este tempo, que enquanto prepara-me para mais uma reunião e fazia a minha meditação ministrar no culto de ensino, que fui inspirado a falar sobre o tema bíblico:

"Em tudo dai graças, por esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco." (1 Tessalonicenses 5:18  

Eu até de inicio, questionei se era este mesmo o tema,  porque como poderíamos agradecer a Deus por uma praga, que estava incomodando a população e os animais? Os cachorros criavam feridas nas orelhas e em outras partes do corpo, ao morder constantemente ou coçar com as suas patas violentamente, ao tentar se livrar do enxame de pernilongos que os atacava. As crianças ficavam marcadas, no meu próprio corpo havia marcas de ferroadas de carapanãs por toda parte. Lembro-me que como eu não possuía um mosqueiro, todas as noites para poder dormir mais tranquilo, eu  precisava enrolar-me em um plástico preto grosso, para evitar os ferroes dos carapanãs do marujo, que ultrapassavam um lençol facilmente, para sugar o sangue de suas vitimas, e causar durante  injetar o seu ferroo sob a pele.

Mas, a Palavra do Senhor veio forte, dando-me convicção que seria esta a mensagem da noite, e eu preparei-me em oração para entrega-la durante a noite,  afinal, eu era apenas o carteiro, e não o remetente, da mensagem.

Deus deu-me Graça e após ler o texto,  que manda agradecer por tudo,  eu expliquei aos irmãos, que era TUDO MESMO, porque algumas vezes, somos motivados à adorar a Deus, pelo que ele faz e não pelo que ele representa para nós. Gostamos do Salmo do Bom Pastor, mas não do Bom Pastor do Salmo. Somos igual as crianças  que gostam apenas das sobremesas, dos doces, e naquele versículo o Senhor estava nos ensinando aceitar lições  passar em provas, obter experiência, adquirir conhecimento, vencer obstáculos. Falei que Deus era um pai amoroso, protetor,  que estava nos ensinando a agradecer até por aqueles momentos que ele nos segura forte, para a aplicação das vacinas, que doem, e recusamos aceitar, mas que e para o nosso beneficio depois. E foram vindo palavras, até que eu disse, agradeça por tudo, até  por uma praga de insetos, e se te perguntarem por quê, apenas responda: "Porque esta é vontade de Deus" e apenas confie. Não reclame na hora da vacina, do aperto, das provações  apenas submeta-se, sofra um dano momentâneo rápido, para ter uma benção maior, um beneficio eterno.

E neste momento na congregação, havia um barulho de Glórias e Aleluias, a igreja estava entendendo a mensagem e sendo edificada, e de repente a irmã, Marina, foi batizada com o Espirito Santo, com a mesma evidencia que está em Atos 2 relatando o que aconteceu não dia de pentecostes.

Ela começou a falar em voz alta sem parar, que chamou a atenção daquele pequena vida. Há um trezentos metros dali, havia um mercearia que a noite se transformava num bar, e os pescadores se reunião, para beber, conversar o jogar na mesma de bilhar que havia em um barracão. Depois da nossa igreja este era o lugar naquela vila  onde as pessoas se reuniam. E com barulho da mulher gritando junto ao eco de glorias a aleluias, eles correram para la para ver o que estava acontecendo. Nunca antes alguém ali naquela vila havia sido batizado com o Espirito Santo,  e por isso o impacto dentro e fora da congregação. 

De repente eu avistei, nas  janelas muitas pessoas olhando sem entender o que se passava la dentro, e foi quando exatamente, eu lembrei-me do que aconteceu no Dia de Pentecostes, quando o fogo do espirito desceu sobre o povo no cenáculo, e o pessoal também correu para la para ver o que estava passando. E ja conhecendo como Pedro fez, eu também, aproveitei a chance e pedi para aquele povo da vila que estavam atritos olhando pelas janelas, para entrarem, que eu  explicasse o que estava passando.

Então abri a Bíblia, e dei a própria explicação, que Pedro deu,  quando o povo pensou que a sua congregados estava embriagada, e foi maravilhoso o resultado. Dias depois, assim como praga de carapanãs, apareceu, também desapareceu, ficando somente o normal, que é mais tolerável. 

Eu evangelizava, os pescadores durante o dia enquanto eles estavam em seus barcos consertando as redes, uns confidenciava-me as suas preocupações, os seus dizem,as familiares, profissionais de doenças, e eu sempre orava por todos.

Eu ainda era bem jovem, mas era bem respeitado pelo população local, porém, isso não agradou o Birro, um pescador que bebia, usava drogas, era temido como uma pessoa violenta. Um dia alguém, falou-me que ele estava incomodado com o avanço da igreja, e tinha prometido que um dia ainda me fazer correr dali. Ele era uma pessoa na faixa dos 30, e eu estava apenas nos meu 19 anos, porém, ele era um homem robusto, acostumado a puxar rede em alto mar, e confiava muito na sua brabeza. 

Um dia, enquanto caminhava pela praia, levando o sabonete e a toalha, para um local ermo onde eu tomava banho todas as tardes, notei ainda  distante o vulto de um homem,  que apressava os seus  passos vindo em minha direção. Quando chegou mais perto eu notei que era o Birro, pois alguém da igreja, já  o havia mostrado-me ele, exatamente, para informar-me sobre suas ameaças, e relatar aguas desordens que ele fazia no vilarejo.

Ele devia estar me esperando porque aquele era um lugar onde eu ia sozinho para tomar banho todas as tardes, e em um   local deserto.

Esta foi a primeira vez que isso, aconteceu comigo, que iria se repetir  nos anos seguintes por outras vezes, por isso devo confessar-lhes aqui; eu tenho muitos defeitos, mas, quando trata-se de alguma ameaça  que envolva a obra de Deus e Ministério, eu não tenho medo. Pelo contrário, isso me excita, me provoca à reagir, sem nenhum medo. Eu não seu explicar, como como isso acontece, nem se e virtude ou mesmo defeito. Mas é a realidade, mas,  adiante em outros capítulos, à seu tempo, eu posso explicar outros momentos iguais, na Amazônia, ao precisar destituir um obreiro de suas funciones, ao outra vez ao  tentar embarcar, no aeroporto Charles de Gaule, em Paris, quando um indiano, vai caçar encrenca comigo e complicou-se  a situação.  

Porém voltemos a praia na hora do banho. 

Quando Birro que vinha rapido me alcançou, ficou paralelo comigo e diminuiu os passos para acompanhar-me. E começou a puxar conversa deste modo.

   - E você que é pastozinho daqui não é?

Respondi-lhe calmo medindo as palavras:
 
   - Não, eu não sou pastor, sou apenas um dirigente de congregação, eu estudo num seminário em Belém e neste pedido de ferias, o meu pastor enviou-ma para cá, para ajudar vices a conhecerem melhor sobre as coisas de Deus. 

Ele, fazendo-me entender que ia tomar banho no mesmo lugar respondeu secamente:

    - Não, comigo não. Eu  não  gosto de crente, e você já me conhece? Sabe quem eu sou? Eu sou o Birro. 

Creio que ele pensou que se  eu estava naquela vila durante alguns dias, já devia conhecer sua fama e como era temido no lugarejo. Então eu resolvi mostra-lhe que ali estava um que não tinha nenhum medo dele. Então me virei para ele, tentei engrossar mais a voz, e peguei na mão dele apertando bem forte.

   - Então muito prazer Birro. Eu sou o Calby, e vejo que eu estou caminhando com o homem mais valente desta vila, um cabra macho. 

 Acho que ele gostou do elogio, mas, ficou meio sem graça  e espantado com a minha reação e eu aprovei a brecha, disse-lhe: 

- Sabe, Birro eu gosto de conversar com gente valente, eu tenho é raiva de gente frouxa, que gente que não se garante. Mas, sabe, tem que ser a valentia que Deus quer ver em nós, para abandonar o pecado, renunciar o erro e servir a Deus.

Disse-lhe enquanto ele ouvia todas a minha palavras em silencio.

 - Eu ouvi sobre você que você bebe e também fuma maconha, e não é esta vida que Deus quer que você viva, Ele quer te libertar de tudo isso, pelo poder do seu sangue.

Notei que ele baixou a cabeça  e estava emocionado e quase chorando, com aquela abordagem inesperada, e eu aproveitei a chance:

 - Birro, tudo isso eu fiz antes, fumei maconha, bebi a vontade, eu cheguei ao ponto de cortar o meu punho, para tirar sangue para misturar com cachaça e beber, quando farreava junto com amigos (mostrei-lhe o lugar ca cicatriz em meu braço), mas, Deus me libertou. Saiba que a primeira oração sincera que eu fiz foi dentro de uma prisão, eu seu que a vida distante de Deus não presta, não vale a pena. Valentia de verdade é poder renunciar tudo isso e viver para Jesus, obedecer sua Palavra. 

Chegamos ao lugar lugar da praia definido, e enquanto paramos para tomar  banho juntos, eu contava-lhe todo minha historia de conversão,  que já está relatada, no capítulo dois deste livro, e ele aproveitou e contou parte da sua, falou-me de seus problemas pessoais, sua desilusão com a pessoa amada, e sobre acertos e fracasso, conversamos bastante, e  sei que quanto  despedimo-nos no caminho da volta, ele disse-me:

  - Eu gostei muito deste encontro e dessa nossa conversa, eu precisava ouvir isso. Temos que  voltar à conversar novamente, posso procura-lo na igreja?

Respondi alegre e muito feliz:

- Claro, que sim,  a qualquer hora que precisar!

Passaram-se alguns dias, talvez duas ou três semanas,  enquanto estava no interior da cada, fazendo algumas anotações para o estudo bíblico,  alguém bateu à porta da frente com forca, e quando abri vi o Birro, sentado nos degraus de entrada. Sua situação e voz, demostrava que ele estava embriagado. Mas, olhado-me de baixo para cima, como que clamando por misericórdia, disse-me:

      - Olá, 'pastor' eu estou aqui para ore por mim. Eu não aquento  mais essa vida. Eu também, preciso mudar, eu desejo ser uma nossa pessoa...

Eu orei por ele pedindo que repetisse umas palavras, implorando o perdão de Deus e pedindo transformação. Terminando o aconselhei, que fosse diretamente para descansar, e que quando estivesse sóbrio, que voltasse ali para que a gente poderia conversar mais, eu queria ensinar-lhe como fazer em sua nova vida. 

Em Caju Una eu estava aprendendo a ser ousado em meu ministério, certamente para poder enfrentar o que veio depois, ao longos dos anos, progressivamente, em desafios e provações cada vez maiores. Não há duvida que qualquer pessoa que decide servir a Deus, ganhando almas, fazendo a obra, precisa esta preparado para vencer muitos obstáculos, muitos desafios.

Eles, os irmãos da igreja, não sabiam e nem eu também por aquele tempo, mas, creio eu, que exatamente para realizar as missões e reagir nos perigos que tenho enfrentado, durante as tarefas de plantação de igrejas, nos desbravamentos missionários, por  diferentes lugares, que qualquer afronta ou ameaça que venha, tem para mim um efeito contrário, pois em vez de me causar medo, gera uma adrenalina que me faz reagir de uma forma diferente, de enfrentamento e não de fuga, de resistência e  persistência para o confronto. E eu sei que seria bem mais confortável para mim e para minha família,  apenas evitar isso, concordar com o sistema, mas sei que não fui chamado para isso. 

Mas,  eu estava vivendo meus últimos dias naquele lugar, o período de ferias estava vencendo, e eu  precisava retornar ao seminário para concluir o meu curso. 

E este fato tornou-se  um dilema, porque na verdade eu queria era ficar ali para resolver toda aquela situação, continuar dando continuidade a obra.  

Como um dirigente local, eu tinha planejamento de reconstruir a ampliar o nosso local de cultos, e ali tinha muitas pessoas que estavam sendo evangelizadas, os novos crentes precisando de apoio para crescer na fé. Tudo que eu queria era trabalhar para o Senhor, e isso eu estava fazendo ali, bastava continuar.

Um dia, enquanto caminhava pela praia ao entardecer    contemplando aquele lugar, recolhendo algumas algumas cascas de cocos para queima-las debaixo do assoalho da congregação,  eu comecei a orar para falar diretamente com o Senhor, em oração, pedindo sua permissão para anos voltar mais para terminar meu curso no seminário para poder permecener ali, e dar continuidade aquele trabalho. 

De repente, ali em pé, me veio uma resposta de Deus como um revelação direta do céu, me anunciando antecipadamente, sobre todas as coisas que vem se cumprindo fielmente, ao longo dos anos, no decorrer de meu ministério pastoral e missionário.

Eu não sei explicar, qual a forma que Deus usou para me fazer entender a mensagem, com todas as letras, sem ter uma visão, sem ver nada em sonhos  sem ouvir nenhuma palavra, mas as entendendo no íntimo, era como se fosse uma comunicação interna diretamente ao meu espirito, para então depois a mente compreender, chegando ao nosso conhecimento pessoal o termo da mensagem. Deus sabe como se comunicar com suas criaturas e com os seus servos.

Por isso eu vou tentar transcrever seguidamente, com minhas próprias a mensagem da forma que entendi: 

Falou-me o Senhor, que que eu deveria voltar para completar o meu curso bíblico, porque eu ira precisar disso nos anos seguintes para exercer o ministério que ele havia confiado para mim realizar. Eu precisava completar algumas matérias e  conhecer outras.

Falou-me o Senhor, que o meu ministério seria internacional, que à seu tempo eu iria sair de minha pátria, para pregar em outras nações, falar para outros povos em outros idiomas, e além dos Oceanos.

Falou-me o Senhor,  que eu iria fundar uma missão, treinar obreiros, estabelecer igrejas, para servir pessoas em diferentes lugares da terra.

Falou-me o Senhor, que tudo deveria ocorrer no tempo exato, e que eu não me apressasse, e nem publicasse aos outros o que estava recebendo ali, porque ninguém haveria de acreditar, mas, na medida que as coisas fossem acontecendo, todos haveriam de perceber e acreditar.

Estava chegando a hora do culto, e eu entusiasmado e perplexo, com tudo que acabava receber,  caminhei para local de culto para acender o fogo que queimava as casas de baixo do assoalho,  ja estava escurecendo, acendi o candieiro, e abri as portas para esperar os irmãos estando decidido, que haveria de na próximo semana ser o culto de minha despedida daquele local. 

Eu precisava voltar ao seminário e seguir minha rota, agora eu sabia, que para cumprir o meu voto,  eu tinha um  aliado forte que havia aceitado a minha entrega, ele respondia  falava comigo de forma poderosa. 

Eu queria aproveitar todo o restante de meus dias ali, e por isso na viagem de regresso da ilha do Marajó, para Belém, onde estava o Seminário, eu não fiz a rota como estava acostumado à fazer, indo primeiro para Soure, a sede do Município, para de lá tomar o navio e  nele viajar de uma forma mais confortável. 

Como eu demorei mais que o previsto, o tempo estava expirando, então resolvi ir diretamente do vilarejo de Cajú-Úna, para Belém,  conseguindo uma vaga em um pequeno barco freteiro que fazia a linha entre Belém e Cajú-Una,  transportando mercadorias e passageiros daquele lugar.

Naquele tempo não havia estradas, interligando a região por terra,  como hoje existem. E a único meio de transporte era por via marítima ou aérea. 

Para ir do Marajó a Belém, é necessário atravessar a famosa baia do Marajó, cujas ondas se tornam muito violentas em determinado período do ano, ou mesmo de acordo com a força dos ventos, que pode fazer uma viagem com barco menor para fazer a travessia ser um perigo constante.

Na minha viagem de volta foi um desse dias. O barco tinha motor mais também, era auxiliado por velas, naquela região se usa muito essa forma de embarcação, a motor e a veja, tanto para adiantar à viagem como para poupar combustível.

Durante o trajeto, ao alcançar a baia as ondas se agitaram  e a força dos ventos, fez quebrar uma das vergas, vergas vigas de madeira, que sustentam a vela no mastro da embarcação.  

Havia ondas altas  que  corriam por cima do embarcação e faziam entrar água para molhar as cargas e os passageiros.

Aquele barco era de um comerciante local, de nome Jurandir,  que havia se tornado meu conhecido e com quem eu tinha um bom entrosamento de respeito mutuo.  Nesse dia eu notei ele e sua tripulação apreensivos e  agitados, tentando controlar a situação e os passageiro que gritavam a cada baque que a canoa dava  contra as aguas  ao ser levantada e solta pelas ondas. 

Enquanto a tripulação trabalhava para remover a peça quebrada e livrar a vela de perdimento, foi pedido a alguns passageiro que se revezassem na manejando um bomba manual que retirava a água que entrava no barco.

A situação piorou e eles começaram a jogar ao mar, algumas caixas e alguns objetos pesados dos quais podiam se desfazer, para diminuir o peso da embarcação que ameaçava afundar a qualquer momento. A situação era despertadora porque viajavam idoso e crianças de colo.

Nesse barcos freteiros da bacia amazônica, eles transportam qualquer coisa,  eu estava posicionado junto com outros passageiros e passageiras no redondo, um compartimento coberto que  ficava situado na parte da popa do barco. 

Ali também estava um porco de tamanho médio, que viajava  para ser vendido em Belém, e estava amarrado em uma viga. 

O porco tanto gritava como defecava com o aquela agitação toda, as águas que corriam por dentro ou por fora do barco e molhava tudo. Quando as águas das ondas invadiam o convés, as fezes do porco flutuavam de um lado à outro, sob as pernas e pés dos passageiros que seguravam-se para não cair de onde estavam. 

Uma mulher que de uns quarenta e cinco anos, moradora do vilarejo, que certamente eu ja devia ter evangelizado antes, ou sabia de alguma coisa a meu respeito, como o dormente dos cultos no vilarejo,  estava apavorada com tudo aquilo.

Ela estava se joelhos no meio do redondo segurando-se no que podia, e a cada momento ela podia estar de um lado ou de outro naquele pequeno espaço, junto com os dejetos do porco, que flutuavam de acordo com o balanço das ondas.

De repente a mulher que rolava espantada de um lado à outro tentando se segurar no que podia, segurou nas minhas pernas, pois eu estava sentado na parte traseira do convés, numa espécie de janela de saída na polpa,  segurando-me em algum lugar para não cair, quando ela então perguntou-me, talvez, procurando algum apoio espiritual para aquela situação: 

 - Seu pastor, será que nós vamos afundar?  Será vamos nós vamos morrer? - Eu respondi-lhe com a maior tranquilidade e certeza da vida.

 -Não senhora, pode ficar tranquila, que logo essa tempestade vai passar, é só um temporal.

E acrescentei  para mim mesmo e para o meu consolo: Depois daquela revelação que eu recebi, e o que ainda tenho que fazer para o Senhor, neste momento, eu estou completamente proibido de morrer, eu tenho 19 anos e estou  somente começando a minha jornada. 

E na medida que o barco seguia, aquele momento de  tempestade foi passando, o temporal cessou e nós chegamos em paz. 

Mas, um tempo depois, no ano seguinte, o mesmo Jurandir, dono daquela embarcação, fazendo a mesma travessia, não conseguiu completa-la. Ele estava pilotando a sua embarcação durante uma nova tempestade,  e enquanto forçava  para direcionar em sua rota, a cana do leme quebrou, jogando-o  no meio da noite sobre o mar. Fizeram tentativas, mas com o barco sem leme ficou impossível de  encontrá-lo. 

Imediatamente jogaram um botijão de gás vazio, sobre as águas, para ver se ele conseguia usá-lo como boia de salvamento.

Nos dias seguintes,  começaram fazer as buscas por seu corpo, nas praias daquela região. Foi encontrado a mais de uma semana depois, completamente inchado, despido deformado, com algumas de suas partes devoradas, estava irreconhecível. 

Sua esposa o conheceu, pelo relógio que ainda estava em pleno funcionamento em seu braço,  e encontraram  um botijão de gas encalhado há uns cem metros de onde  estava seu corpo.

Eu sei desses detalhes, porque estive no momento de seu enterro. Recordo-me que para abrigar seu corpo inchado, e com os braços e pernas abertas em posição de nado, foi necessário fazer uma enorme caixa de madeira, que em nada se parecia com um caixão convencional, e o odor era insuportável. 

Mas, quem vive na região do Marajó, onde todos os dias  pescadores usam pequenos barcos, para enfrentar  o desafio da baia, para sustentar suas famílias, já está acostumado periodicamente  a viver acontecimentos e enterros deste tipo.

Foi neste ambiente  e desta forma que aconteceu minha chamada, para realizar o meu compromisso, missionário, que se você continuar lendo este livro, se dará conta sobre o que aconteceu depois.





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